Se nas primeiras linhas deste texto eu me posicionar sobre política, futebol, religião ou algum tema polêmico muito provavelmente você não prosseguirá a leitura, pois quem garante que pensamos de forma similar? Ao interagirmos apenas com o amigável e fugirmos das visões diferentes estamos reforçando nossa bolha. Nela tudo é conhecido e nossas verdades são confirmadas, não há contraditório, é um lugar gostoso, agradável e quentinho.
Já a criatividade tem como catalisador o pensamento divergente, que é a capacidade que temos de imaginar, criar, viajar, sonhar, enxergar algo que na verdade não existe, mas na nossa mente é real. Essa forma de pensar é estimulada pelas nossas conexões com a diversidade. Ao conhecermos lugares, pessoas, cenários, livros, filmes, opiniões, ideologias e até clubes de futebol diferentes nossa capacidade de imaginar se expande. Ocorre que dentro da bolha não temos acesso ao diferente, como já falamos: lá é tudo conhecido. Se sairmos da bolha estaremos expostos à diversidade do mundo e para sobrevivermos nesse cenário precisaremos exercer nossa empatia. Teremos que tentar valorizar as visões diferentes, o que não é fácil. Na verdade, bom mesmo é ficar dentro da bolha!
A questão é que o mundo está cada vez mais dinâmico e competitivo. Vivemos o tempo VUCA, uma realidade volátil, incerta, complexa e ambígua. Neste ambiente os profissionais com visão estreita, com certezas absolutas e donos da verdade dificilmente terão espaço e sua empregabilidade será afetada. O exercício de sair da bolha e sermos mais criativos nos torna aptos para a sobrevivência no mundo aparentemente complicado que se desenha no horizonte. Porém, a história da humanidade mostra que somos exímios em adaptação, sabemos vencer adversidades, inventar artefatos e inovar. Se não fosse assim, pouco provável que macacos coletores, que éramos, estariam agora discutindo Big Data, Internet das Coisas e Inteligência Artificial.
Ao explodirmos nossa bolha veremos que fora dela há um caleidoscópio, um mundo incrivelmente diverso. Talvez no primeiro momento vamos sentir medo, mas logo teremos tantos incentivos a novas ideias que passaremos a achar que estamos mais criativos. E isso será verdade, pois a criatividade está fora da bolha!
Alexandre Garcia
Doutor em Administração, Palestrante e Consultor em temas ligados à inovação